23
Jan 10

O nosso património documental é vastíssimo e de uma riqueza incalculável. Os arquivos nacionais, regionais e privados, abrigam milhares de espécies já identificadas, descritas, inventariadas e acessíveis ao público.

Durante séculos foram produzidas enormes massas de documentos por todo o país, que se acumularam em espaços sem condições mínimas de preservação, sujeitas às maiores adversidades e a um abandono profundo.

Os trabalhos que diariamente se vêm desenvolvendo nos nossos arquivos na área da arquivística, permitem descobrir exemplares até agora desconhecidos que se revelam valiosíssimos, pela antiguidade, pela informação que contém, pela origem e proveniência, ou pela beleza da sua concepção.

Os pergaminhos são sinónimo disso. Em Portugal, desde o séc. IX a XIII, o único material de suporte de escrita utilizado foi praticamente o pergaminho. De origem animal, de cabra ou carneiro, a pele era sujeita a tratamentos de vária ordem que passavam pela limpeza, raspagem e secagem.

É frequente encontrarmos nos arquivos definitivos livros encadernados com fólios de antigos códices, em pergaminho, que foram utilizados por tabeliães e párocos para capas dos livros que produziam, durante o século XVI a XIX.

Num levantamento efectuado sobre esse tipo de capas de livros notariais e paroquiais do Arquivo Distrital de Leiria, foram contabilizados 308 fragmentos de documentos entre manuscritos litúrgicos (musicais), textos de direito, tratados teológicos, cartas régias, dividindo-se por latim, português, francês e inglês.

No decorrer deste trabalho, tivemos o ensejo de encontrar o documento mais antigo, em português,  existente  naquele Arquivo, de que há conhecimento. Trata-se de um fólio de um escritura de emprazamento e doação, de 1391.

Escrito em letra gótica cursiva, mede 460X270 mm e serve de capa a um livro notarial do concelho de Alcobaça, iniciado no ano de 1723 e terminado em 1724, pelo tabelião Manuel Homem Coutinho.

Chegou até nós bastante deteriorado, com marcas evidentes de maus acondicionamentos e permanência em locais totalmente desapropriados. Atravessou séculos e foi reencontrado. 

Ficámos mais ricos.

Fonte: 1º Ofício do Cartório Notarial de Alcobaça

PT/ADLRA/NOT/CNACB1/1/22

 

 

 

publicado por Ana Bela Vinagre às 23:03

17
Jan 10

A primeira medida tomada para a abolição da “pena de morte” ou “pena capital” foi em 1849 na República Romana, seguida do Pincipado de S. Marino em 1852.

Contudo, Portugal, foi o primeiro Estado do Mundo a deliberar o fim da pena máxima, depois de aprovada a proposta de Augusto César Barjona de Freitas, Ministro da Justiça do reinado de D. Luís, através da Lei Constitucional de 1867.

A última condenação à morte ocorrida em Leiria por enforcamento, deu-se em 20 de Agosto de 1841, aplicada a João Marques Amado, de 22 anos, alferes da Guarda Nacional, natural de Arega.

Julgado e condenado por sentença de 4 de Novembro de 1836 em Figueiró dos Vinhos  e confirmada pela Relação de Lisboa em 3 de Novembro do mesmo ano, por assassinato de Custódio José da Costa Guimarães, em Maio de 1835 e do provedor José Martins Teixeira, de Arega, em Março de 1836, esteve detido em Lisboa até 18 de Agosto de 1841, data em que chegou à cidade de Leiria para ser executado.

Depois de aplicadas todas as formalidades religiosas, numa forca montada para o efeito,  em virtude de já não existir a que havia junto ao cemitério, acompanhado do juiz João Cardoso de Sousa Pinto, do escrivão Ireno Roberto Dias e da Irmandade da Misericórdia de Leiria, José Marques Amado foi executado por José António Simões. O seu corpo foi a sepultar pela referida Irmandade, por não haver nenhum parente, a reclamar o corpo, para o fazer.

O óbito foi lavrado na paróquia de Leiria e consta o seguinte: À margem: Cidade O Justiçado João Marques Amado. O Texto: Em o dia vinte do mês d’Agosto do anno de mil oito centos, e quarenta, e hum, soffreo a pena Capital de morte no cadafalço armado no Rocio desta cidade de Leiria, o Reo Justiçado João Marques Amado filho de Antóino Amado e de Maria da Conceição, natural de Castanheira da Villa d’Arega Bispado de Coimbra. Recebeo os Sacramentos da Penitencia, e Sacro Viático. Seu corpo foi sepultado no cemitério. E para constar fis este assento. Que assino. O Cónego Vigario Joaquim José Alves.

Fontes:

Fundo do Tribunal Judicial de Figueiró dos Vinhos, incorporado no Arquivo Distrital de Leiria. PT/ADLRA/JUD/JFVN/1/10/7

Fundo da Paróquia de Leiria, incorporado no Arquivo Distrital de Leiria. PT/ADLRA/PRQ/PLRA12/3/4

 

publicado por Ana Bela Vinagre às 21:37

09
Jan 10

Dona Ilda Fonseca.jpg

 

Estávamos em plena década de 70.

O país vivia um período conturbado, tendo como pano de fundo a Guerra Colonial.

Milhares de jovens viveram o grande drama das suas vidas. O serviço militar obrigatório e o fantasma do Ultramar, dominavam completamente o seu dia a dia e obcecava-os as fobias e os medos relativamente ao seu futuro com todas as incertezas, dúvidas e inseguranças que condicionavam os seus sonhos e limitavam os seus projectos.

Neste contexto os rapazes açorianos que vinham cumprir o serviço militar no continente, enfrentavam uma situação ainda mais adversa, devido à distância que os separava das suas famílias e ao desconforto de se sentiram sozinhos, numa terra desconhecida.

Acrescia ainda o facto de nos fins de semana, nos dias de licença ou nos períodos de férias, não terem um lugar onde permanecer, obrigando-os a recorrer a pensões, muitas vezes com condições defecitárias, a alimentarem-se mal e a frequentarem tabernas e lugares menos recomendáveis.

Foi neste quadro que uma açoriana, com a ajuda do marido, imbuída de um espírito bairrista e solidário, desenvolveu um projecto, de forma rápida e organizada - O Lar do Soldado Açoriano em Leiria.

Ilda Fonseca, apoiada por Fernando Fonseca alugou uma casa, dotou-a do equipamento  necessário, algum  em segunda mão, recorreu a várias instituições como a Cruz Vermelha, o Governo Civil e a privados, nomeadamente a industriais, a comerciantes entre outros.

Elaborou um regulamento e estabeleceu um manual de procedimentos para o Lar.

Os pais contribuiam para a renda e despesas mínimas de luz, água, gás e alimentação.

Ao fim de semana, confeccionava-lhes as refeições, ensinava-os a lavar a sua roupa, instituiu regras de higiene e limpeza.

Criou condições de lazer, fomentando a leitura de jornais e livros, comprou uma televisão que convidava aos serões, promovia momentos de convívio, onde não faltavam os cantares açorianos. Havia sempre um jovem que tocava viola.

Ilda e Fernando também organizavam passeios, piqueniques e pelo Natal, não prescindiam de levar o Lar a visitar os açorianos detidos na Prisão Escola de Leiria e os internados no Hospital Militar em Lisboa. 

Para uma acção mais consertada, Ilda criou uma boa relação com os comandantes das unidades militares da região, que permitia um maior apoio aos rapazes.

De início com quinze jovens, rapidamente o número duplicou o que obrigou a uma mudança de casa. Chegaram a juntar-se sessenta rapazes entre uma incorporação que saía e outra que chegava. E Ilda sabia improvisar.

O Lar era o oásis dos militares açorianos que chegavam a Leiria.

Lá encontravam não só abrigo e conforto, mas um ambiente familiar onde não faltava carinho, compreensão, apoio, dedicação.

O Casal estava sempre presente nas horas boas e nas horas más, dos seus meninos, como lhes chamava Ilda. Substituiam-se aos pais nos juramentos de bandeira, na hora da partida para as outras unidades e na pior das horas -  na despedida para o Ultramar.

Ilda, não teve filhos mas foi uma segunda mãe para algumas centenas de jovens açorianos, que reconheceram a sua acção. Não foi por acaso que lhe chamavam a Mãe Militar.

Actualmente residente em Ponta Delgada, sua terra natal, Ilda tem recebido manifestações de carinho e de reconhecimento de muitos desses jovens açorianos e como disse um dia: Foi o melhor que fiz até hoje, o melhor tempo da minha vida, a mais bela passagem por este mundo.

 

publicado por Ana Bela Vinagre às 22:37

04
Jan 10

As célebres guerras liberais que ocorreram em Portugal entre 1828 e 1834 foi um flagelo para Miguelistas, partidários de D. Miguel e absolutistas, seguidores de D. Pedro V, foi um dos tristes episódios da nossa História, com todas as consequências nefastas que lhe advieram, mas sobretudo, pelo desamor e ódios fomentados entre irmãos e famílias inteiras que se destruiram mutuamente e que o  tempo, dificilmente, apagou das suas memórias.

Esta guerra, como tantas, por onde passou deixou penúria, vítimas e destruição. E aqui estou a referir, muito particularmente, a destruição de livros e documentos. Queimar e rasgar foram práticas sistemáticas e habituais e há época, nem as igrejas foram poupadas.

Muitos dos registos de baptismos, casamentos e óbitos que até 1910 eram efectuados pelos párocos nas respectivas paróquias, foram alvo de um selvático vandalismo. Valeu a pronta acção da Igreja e dos respectivos párocos, na reconstituição de registos, ou então, teria sido uma perda total e irremediável de uma boa parte do nosso passado histórico.

Existem marcas e testemunhos destes acontecimentos como é o caso de uma descrição exarada num livro de baptismos da freguesia de S. João de Óbidos,  que passo a transcrever:

Este livro ha de servir para nelle se lancarem os assentos dos baptismos da freguesia de São João Baptista actualmente annexa á de Santa Maria d'Obidos, para suprir dos assentos que continhão os livros que se extraviaram por occazião da guerra civil e entrada das tropas na villa en 1833.

Livro de Baptismos de S. João de Óbidos (1821-1833) existente no Arquivo Distrital de Leiria ( Dep. IV 38-A-10)

publicado por Ana Bela Vinagre às 19:04

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