26
Fev 10

Um arquivo histórico é um potencial de informação para todas, ou quase todas, as ciências  que vão desde a política à história, da estatística à economia, da geografia à cartografia, da astrologia à astronomia. Nos documentos mais diversos  encontram-se os registos mais insólitos.

E voltamos aos registos paroquiais. Porque eram executados pelos padres, os senhores da escrita e das letras, que utilizando desta prerrogativa, deixaram informações e registos de natureza bem distinta das suas atribuições, mas que nos dão a conhecer factos curiosos e raros, como o que encontrámos sobre o aparecimento de um cometa, observado na região de Pombal e registado no livro de baptismos da freguesia do Louriçal a folhas 52:

Cometta que apareseo no fim deste anno de 680 dos quinse e te vinte de desembro para a parte do poente mais para a banda do norte do feitio de huma palma sem bicos ou de hum grande alfange porque era mui comprido, e comesou a pareser ao sol posto no mar e dali por diante hia ficando mais asima e vai continuando na mesma forma e carregando sempre para a parte do norte.

Fonte: Livro de baptismos da freguesia do Louriçal, concelho de Pombal – ADLRA/PRQ/PPBL06/001/0002 

 

publicado por Ana Bela Vinagre às 23:32

14
Fev 10

Fachada Norte_Maio 1953.jpg

Haverá muitos leirienses que ainda guardam na memória o Teatro D. Maria Pia, em Leiria. Mas quem nasceu já na segunda metade do Séc. XX, não teve essa oportunidade. Aqui fica uma descrição da sua inauguração, relembrada por altura da comemoração do 60º aniversário, realizado em 8 de Dezembro de 1940 e publicado no jornal O Mensageiro de 7 de Dezembro de 1940.

Leiria inaugurou há poucos dias [9 de Dezembro de 1880] o seu novo teatro, um belo teatro (…). Vamos dar uma rápida notícia dêste novo teatro, um grande melhoramento na cidade de Leiria, notícia cujos apontamentos devemos à obsequiosa amabilidade do sr. L. A. Dos Santos.

O teatro de D. Maria Pia foi edificado no campo de D. Luiz I, correndo paralelo ao antigo convento de Sant’Ana, com o qual forma uma vasta e espaçosa rua.

A arquitectura externa do teatro é simples, em compensação o teatro por dentro é dum luxo extraordinário, duma elegância que o coloca acima de todos os teatros de província. No rez-do-chão há um vasto salão que serve de vestíbulo comunicando com a casa do bilheteiro, o botequim e com elegantes escadas que conduzem à parte superior do edifício. Entretanto por esse salão encontra-se um bonito arco, e logo depois as escadarias amplas dos camarotes e ao fundo a porta que abre para a platéa, tendo na parte superior o emblema da comédia e escrito em letras abertas em talho dourado o nome do teatro. Na 1ª. Ordem há 21 camarotes, largos, com belas coxias que dão para um vasto salão de entreactos tendo nos topos a “toilette” e um botequim especial. Na 2 ordem há igual número de camarotes. A placa tem 132 cadeiras, e 100 lugares de geral, e é circundada por 16 frisas.

A sala é em feitio de ferradura, é elegantíssima, perfeitamente iluminada por numerosos candelabros suspensos dos camarotes, todos gradeados em florões dourados e corrimãos estofados a carmezim vivíssimo, dum belo efeito. O tecto do teatro é cheio de ornatos e arabescos dourados, e o pano de boca, pintado em Milão, e oferecido ao teatro pelo accionista de Lisboa sr. José da Silva Bento e Sousa, é magnífico e representa uma cortina sobrepujada por um docel a que se abriga um grupo de crianças sob as bandeiras portuguesa e italiana, alegoria à caridade régia da augusta princesa de quem o teatro tem o nome. O palco é vasto, tem camarins espasoços e já possue um sofrível número de vistas pintadas pelos cenógrafos Rocha e Barros. O teatro foi edificado por uma sociedade de que foi a alma e o iniciador, o sr. Miguel Joaquim Leitão, aos esforços, e trabalhos infatigáveis dos quais  Leiria deve hoje o seu belo teatro. A sociedade é por acções espalhadas por muitas pessoas influentes da localidade e de outros pontos do país. A primeira pedra para a edificação do teatro foi lançada, com grande pompa, no dia 3 de Outubro de 1878, assistindo a esta solenidade a comissão promotora, a câmara municipal e outras autoridades.

A inauguração realizou-se com todo o brilho na noite de 8 de Dezembro, com um espectáculo desempenhado por curiosos, abrindo com o hino de El-Rei D. Luiz, executado pela orquesta, e um hino de saudação a S. M. a rainha escrito pelo sr. Xavier Rodrigues Cordeiro, poeta natural de Leiria, e cantado pela sociedade dramática. A peça de inauguração deste teatro, construído em dois anos e um mês, foi o drama “Abel e Caim” do falecido escritor António Mendes Leal.

O Teatro D. Maria Pia foi o centro cultural de Leiria, por excelência, durante cerca de oitenta anos. Recebeu teatro, cinema, concertos musicais, recitais, exposições e outras manifestações de arte, sob os aplausos de um público não só da cidade, mas de outros concelhos, que pela qualidade e fama dos seus espectáculos, acorriam frequentemente a ele.

A degradação do edifício e a necessidade de ampliar a sua lotação, levantou polémica, gerou negociações, mas a sua demolição em 1958 foi inevitável.

Foi uma perda lamentável. Hoje por certo seria reabilitado.

publicado por Ana Bela Vinagre às 17:56

08
Fev 10

Os terramotos estão na ordem do dia.

A Terra não pára de nos surpreender e sistematicamente nos dá sinais da sua irrequietude, versatilidade e poder.

Em Portugal, o mais célebre por ter sido o mais devastador, deu-se a 1 de Novembro de 1755, que assolou de forma implacável, a cidade de Lisboa. Historiadores, geólogos, sismólogos,  têm  dedicado uma boa parte do seu estudo a este fenómeno.

Sobre o assunto podemos encontrar nos nossos Arquivos Históricos descrições, relatos e notícias, sobretudo em fundos documentais de cariz religiosa como os conventuais, paroquiais, diocesanos o que justificável tendo em conta que a igreja, com toda a sua máquina humana, tinha praticamente a exclusividade da escrita em Portugal, com maior relevância, nos meios pequenos, onde os padres ou párocos eram a única figura da literacia.

Encontrámos uma dessas descrições num livro de registos de baptismo da freguesia de Maiorga, do concelho de Alcobaça, logo a seguir ao termo de abertura do mesmo e que nos diz o seguinte:

Neste anno de 1755 dia de todos os Santos do prezente anno, ouve hum grande Terremoto quazi en toda Europa e nós o sentimos no nosso Reino de Portugal principalmente a Corte e a cidade de Lisboa sendo esta o Paraizo da terra agora ficou destroida e quazi arazada, de sorte que não ficou templo nem caza onde pudesse habitar morador algum nem celebrar o Santo Sacrificio da Missa por que depois de ficar toda a supra dita cidade a ruínada veio o fogo e debrazou ou queimou todas as riquezas que nella havia e muitas mil almas se queimarão vivas por ficarem de[bai]xo  doa edeficios. Villa Franca Povos Castanheira tão bem a mayor parte se arazou Alcobaca ficou muita parte destroida nesta villa cahirão algumas cazas, e algumas ficarão para secula seculorum  a que aqui cahio já mais se levantou a nossa Igreja a parede da parte do Pulpito abrio por todo o comprimento hũa grande brecha e me parece que tarde se red[?]eficará rezão porque os freguezes della falta o zello mas muito a prezunção.Não está assinado mas o seu autor terá sido o vigário Manuel Sousa Lima.

Fonte: Livro de Baptismos de Maiorga, existente do Arquivo Distrital de Leiria– ADLRA/PRQ/PACB09/1/6

publicado por Ana Bela Vinagre às 13:32

07
Fev 10

Figura incontornável da nossa História, o Marquês de Pombal tem sido das mais polémicas e controversas, que continua a instigar investigadores e especialistas para melhor o conhecerem e compreenderem.

Considerado por uns o maior estadista de todos os tempos, foi contestado por outros relativamente a algumas medidas de força que implementou no seu governo, denunciando um carácter déspota, autoritário, ambicioso e que muitos não perdoaram por terem sido alvos da sua acção governativa.

Governou a seu belo prazer, pôs e despôs de acordo com os seus ideais e as suas convicções, apoiado pelo seu rei, ganhou o respeito e admiração de uns, mas também fomentou ódios e incompreensão de outros.

Com a morte de D. José, o tempo útil como ministro do reino, chegava ao fim.  Sucede-lhe sua filha D. Maria, acérrima opositora à política de Pombal, que em Agosto de 1781 o declarou por decreto réo e merecedor de um exemplar castigo.

Banido da Corte e da capital, Marquês de Pombal foi exilado para sua casa em Pombal, destituído dos seus bens e com parcos meios de sobrevivência, doente e triste, tendo como único amparo a sua mulher, abandonado por quem  antes o venerara e adulara, enfrentou a morte, desiludido e cansado, tendo sido sepultado na Igreja do Cardal, porque a Corte não permitiu que ficasse no jazigo de família  na Igreja das Mercês em Lisboa.

As formalidades fúnebres, decorreram sem as honras da Corte, mas com toda a solenidade e pompa, que a religião católica tem  para abençoar os seus defuntos. Embalsamado, vestido com o manto e hábito de S. Francisco, entre responsórios,  missa cantada, assistido com grande número de clérigos de todo o Arcediagado e com cerca de três milhares de pessoas a prestar-lhe a última homenagem.  O Bispo de Coimbra acompanhou todas as práticas fúnebres e no dia último dia, celebrou a eucaristia seguida da oração fúnebre, considerada ímpar e perfeitamente adequada ao estadista que havia sido o Marquês.

Foi lavrado o respectivo assento de óbito pelo pároco da freguesia de Pombal, nos termos que a seguir se transcrevem:

À margem : villa o Escelentissimo Sebastiam jose de carvalho e Mello Marques de Pombal. Teve 2 officeos de 9 lli (?)- Martins

Texto: Aos oito dias do mes de Maio de mil sete centos outenta e dois faleceuo da vida prezente com todos os sacramentos o Excelentíssimo Sebastiam jose de Carvalho e Mello Marques de Pombal casado com Dona Lianor Ernestina de Daum moradores nesta vila de Pombal seo corpo foi depositado na capela da Ordem terçeira da igreja do Convento de São Francisco de Nossa Senhora doo Cardal desta vila de que fis este termo que asignei. Era e dia ut supra vigario Francisco Martins.

Fontes: Livro de óbitos da freguesia de Pombal (1772-1797) incorporado no Arquivo Distrital de Leiria PT/ADLRA/PRQ/PPBL09/3/3.

Só em Junho de1856, os seus restos mortais foram trasladados para Lisboa, em honroso préstito, constando de uma acta  da reunião de Câmara em Leiria de 20 de Maio de 1856, estar previsto a chegada a esta cidade o préstito que acompanha para a Capital do Reino os restos mortais do defunto Marquês de Pombal devendo ser depositado o féretro na Igreja do Espirito Santo (...) sendo para desejar que este concelho faça as possíveis demonstrações de reconhecimento pelos serviços daquele sábio estadista que tanto engandeceu a Pátria. 

De facto houveram diligências entre a Administração do Concelho de Leiria, a Administração do Concelho de Alcobaça, porque provavelmente também iria passar ali, e o Governo Civil de Leiria para de forma condigna procederem às formalidades adequadas ao acto.

Fontes: Fundo do Governo Civil de Leiria incorporado no Arquivo Distrital de Leiria.

PT/ADLRA/AC/GCLRA/D/032

Em Pombal, no túmulo onde esteve sepultado o Marquês, na igreja do Cardal,  conserva-se  uma placa com a seguinte inscrição:

Aqui estiveram depositados os restos mortaes do Grande Marquez de Pombal Sebastião Joze de Carvalho e Mello desde 1782 até 1856 em que foram trasladados p. Lisboa pelo seu Quarto Successor".

Acerca dos restos mortais do Marquês e ainda em Pombal, foram profanados pelas tropas francesas e posteriormente em Lisboa, com a implantação da República voltou a ser alvo de vandalismo, obrigando a nova mudança, desta feita para a Igreja da Memória.

Nem na morte descansou em paz.

 

 

publicado por Ana Bela Vinagre às 22:14

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