04
Jun 11

Hoje dança-se quase todo o tipo de ritmo desde o “velho” tango que no início do século XX se propagou aos salões de dança de todo o mundo, à “bela” valsa, passando pelo fox-trot, pelo  xá-xá-xá , que contemporizaram com eles e o twist e o yé-yé que foram as grandes revoluções dos anos sessenta.

Mas danças houveram que caíram em completo esquecimento. O minuete, dança do séc. XVIII, nasceu em Poiton, antiga província de França e teve um grande impacto por todo o país, sobretudo no tempo de Luís XIV. Os salões fervilhavam de damas exibindo grandes tocados, seios desnudos e cavalheiros de perucas brancas e sapatos de enormes fivelas, como ditava a moda de então.

Elegante, miudinho, de movimentos demorados, o minuete era um  verdadeiro “tratado” de arte, desde a colocação do pé, o curvar o corpo, a elevação dos braços, tudo com muita elegância e graciosidade. A música assentava no compasso ternário, andamento vagaroso para acompanhar adequadamente os movimentos da dança.

As mulheres deslumbravam. Ver uma bela dama a dançar o minuete era caso de estontear cabeças, dizia o Barão de Santo André, em 1897. Margarida de Borgonha notabilizou-se na sua execução. D. João de Áustria, vice-rei dos Países Baixos deslocou-se a Paris para a ver dançar.

Muitos escritores de então encontravam no minuete assunto para as suas páginas onde dissertavam, cativando os seus destinatários. Verdadeiros coreógrafos se dedicaram a esta arte, tornando-se verdadeiros mestres.

Com a existência de algumas escolas de “Danças de Salão”, que têm contribuindo de forma significativa a prática de “velhas” danças, porque não recuperar o minuete?

publicado por Ana Bela Vinagre às 22:02

Confesso que sinto alguma frustração por não saber andar de bicicleta. De tudo a que me propus aprender na vida, foi a única que ficou por concretizar. E sinto pena… deve ser uma sensação de liberdade, para além de ser uma óptima terapia física e psíquica.

O velocípede remonta aos finais do século XVIII. Diríamos que de forma muito empírica e de má construção, contudo alguns deslizaram pelas ruas de Paris utilizados por pessoas elegantes que eles próprios moviam. O conde Sivrac está-lhe associado.

Ao longo do séc. XIX contribuíram, para aperfeiçoamento do veículo, Barão Dias, Macmillan, Ernest Michaux, entre outros.

Foi considerado um factor de perigo como se lia em 1874 na Associação Scientifica de França que dizia: “Os médicos franceses e ingleses têm tratado nos últimos tempos uma grande variedade de ferimentos resultantes do velocípede, dos quais alguns provêem dos novos perigos  que oferecem estes instrumentos de locomoção, pela posição elevada do cavaleiro, principalmente nas suas relações com as leis do equilíbrio. Os ferimentos mais comuns tem sido a deslocação das extremidades superiores, especialmente do radius. Algumas fracturas do cubitus têm também aparecido, com graves distensões, ou entorses nos pulsos”.

Mas os benefícios também acabaram por ser reconhecidos e no virar do séc. XIX para o séc. XX, na opinião dos entendidos a bicicleta já era considerada muito eficaz contra a obesidade, gota, nefrite, dispepsia e no tratamento de problemas cardíacos e  pulmonares.

O ritmo cadenciado e simétrico contribui, outrossim, de forma favorável para uma boa circulação e ainda contra a acção oxidante do organismo.

Como forma de desporto a bicicleta deu origem ao ciclismo que nasceu na Inglaterra, em meados do séc. XIX.

Hoje a modalidade reveste-se de variadas formas: estrada, BTT, ciclo turismo, montanha.

Também numa vertente artística a bicicleta integra, muitas vezes, espetáculos de circo em acrobacias de duas rodas, ou apenas de uma só, a recordar o velocípede inventado por um senhor alemão, chamado Hobby.

publicado por Ana Bela Vinagre às 21:23

02
Jun 11

A revista ABC que circulou pelo país, nas primeiras décadas do séc. XX, delicia-me pelo conteúdo dos seus artigos, pelos desenhos, pelo estilo, pela apresentação. Enfim, agrada-me.

Foi um dos seus números[1], que me conduziu até Maria Amália Vaz de Carvalho, a primeira humorista do nosso país, sob o pseudónimo Luzia,  oriunda de um extracto  elitista da sociedade portuguesa, extremamente culta, viajada, inteligente, de um bom gosto, que as suas obras deixam antever.

Os Que se Divertem, que esgotou num curto espaço de tempo e bem aceite no mundo literário cinzento de então, foi o seu primeiro livro, cujo êxito a levou a escrever de seguida Rindo e Chorando. Mais tarde vieram a lume Cartas do Campo e da Cidade e as Cartas de uma Vagabunda.

Diz-nos o autor (?) do citado artigo que as  suas cartas podem, sem favôr, pôr-se em paralelo com algumas de entre as melhores que Eça Queiroz subscreveu.

A sua obra teve a graça de ver retratadas figuras lisboetas das mais representativas, tipo “novas-ricas”, escravas da moda e outras, não de forma jocosa ou ofensiva, mas com espírito e arte na condescendência e manifesta simpatia. Dizia Amália: Para ser grande na arte é preciso, antes de tudo, ser sincero. Nunca ninguém logrou traduzir bem as dores que não sentiu. Esta terá sido a chave do seu sucesso.

Escreveu ela sobre o riso[2]:

O que distingue o homem de todos os outros animais da criação, é que só o homem ri!

Isto basta para afirmar a significação do riso.

Depois, nós temos só uma maneira de chorar, que debaixo da pressão angustiosa e dilacerante da dor, caímos todos prostrados no mesmo abatimento sombrio, que, nobres ou plebeus, ricos ou pobres, crianças ou adultos, génios ou mediocridades, só temos as lágrimas como supremo alívio ou como suprema expressão, temos em contraposição tantas maneiras de rir quantas são as diferenças que nos distinguem e separam uns dos outros.

Há o riso das crianças: - eflúvio visível d alma dos anjos.

Há o riso das virgens: - reflexo ideal de um paraíso onde a árvore do mal ainda não lançou as suas sinistras raízes.

O riso dos velhos: - uma luz feita de doçura, de experiência e de bondade, um conselho mudo a que ninguém resiste, o perfume de uma flor murcha, que evoca diante do nosso olhar, mundos que se esvaíram.

O riso das mães: - a natureza formou-o da alvura irada das suas pérolas, da claridade rubra e prometedora das suas auroras, de tudo que há de mais carinhoso nos seus seios ubérrimos, de tudo que há mais puro nas suas graças estivais. É uma nesga de céu, entrevista através de uns lábios de mulher.

O riso das almas satisfeitas: - consolação e esperança dos que procuram insaciáveis alguma coisa que nunca houve e que nunca haverá.

O riso dos maus: - face aberta de um abismo, no fundo do qual bramam com fragor soturno as águas lodosas de todas as paixões indomadas.

Acima de todos estes risos e feito de todos os elementos que os constituem e de muitos outros que lhes faltam, vibra, estridente, poderoso, derramando em torno a sua influência fecunda, o riso enorme que abala os tronos pela base, e que destrói os preconceitos e os ridículos pela raiz.

Chama-se a este: o riso do génio.

Todos nós o conhecemos mais ou menos.

D. Maria Amália Vaz de Carvalho



[1] Nº 480 de 26-09-1929

[2] Almanach de Lembranças, 1906

publicado por Ana Bela Vinagre às 00:00

01
Jun 11

O sonho de ter automóvel é tão antigo como o seu aparecimento e bem cedo começou a fazer parte do imaginário de algumas pessoas.

No encalço desse sonho surgem na década de 50, em Leiria, grupos de jovens rapazes que, em sociedade, adquiriram o seu carro. Em grupos de três, quatro ou mais, numa faixa etária entre os 18 e os 30 anos, alguns rapazes aventuraram-se na aquisição do seu Ford, Citroen, Overland que pela sua irreverência, espírito de aventura e ainda sem encargos familiares, desejavam sair do seu círculo restrito e limitado e procurar emoções e divertimento, fora de portas.

Tratava-se de uma “sociedade” porque o valor da compra do veículo era dividido por todos, bem como as despesas da gasolina e as reparações (apenas as peças) porque a mecânica era assegurada por um dos elementos. Quando um deles por qualquer motivo se via impedido de ir, para que a saída não pesasse no orçamento da sociedade, convidavam um amigo interessado que participava na despesa do combustível.

 

Dentro destes moldes foi um desses grupos constituído por Armando Santos, Augusto Constantino Lopes, António Carlos Santos Morgado, César Faustino da Silva Lopes e Artur, alguns dos quais bancários do BNU, que em regime de sociedade, adquiriram um Ford A, descapotável a um dos proprietários da Baquelite Lis. Eles próprios o repararam e os estofos, habilidosamente arranjados por Mercedes Castanho, uma modista da praça de Leiria, cunhada de Armando Santos. Tudo mão de obra caseira. E era vê-los todos os domingos na eleita Praia de São Martinho do Porto.

Como é evidente incidentes e peripécias aconteceram. Acidentes, avarias… Contam que num dos regressos a Leiria o Ford decidiu verter águas e só não ficaram empanados porque lhe aplicaram  um pão que havia sobejado do lanche, permitindo-lhes chegar ao destino sãos e salvos. "Morreu" o Ford às mãos de Armando Santos que depois de um aparatoso acidente, acabou num ferro velho. (Foto cedida por Armando Santos).

Um outro grupo era formado por Filipe Silva, António Silva, José Silva, Vítor França e outro, que experimentou a sensação de liberdade e aventurismo, com um Ford A, comprado a um elemento da família Marques da Cruz. Tinha a particularidade de ter uma roda suplente maior que as do próprio carro. Não tinha macaco nem chaves de rodas. Nunca tiveram um furo. Foi vendido mais tarde para um ferro-velho de Torres Novas, tendo sido substituído por um Citroen ( Arrastadeira) de 11 cavalos.

Santarém, Tomar, Figueira da Foz eram, entre outros, os destinos preferidos dos fins de semana, que passaram a ter outro sabor. A sexta-feira à noite era, sem dúvida o momento mais desejado depois de uma semana de trabalho. Leirienses de gema, procuravam outros lugares, onde não eram conhecidos, para dar largas aos seus devaneios boémios e onde se faziam passar por aviadores da Base Aérea de Monte Real,  para impressionar os locais que frequentavam, conquistando alguns corações femininos mais desprevenidos.

A moda pegara e outros grupos surgiram. O Carro dos Oficiais, ou O Carro dos Militares, de cor azul  pertencia a uma sociedade de oficiais do Quartel de Artilharia 4.

 

Famoso ficou também o Overland amarelo descapotável que pertencia a Óscar Alvares Pereira, Nini Pereira, João Alves, António Varatojo, Joaquim Ramalho, Saraiva, Joaquim Gordalina, Álvaro Pereira, José Pereira. Esta "relíquia" ainda vive.

(Foto cedida pelo Sr. Mó Hingá)

 

 

Estes automóveis estacionavam habitualmente no largo da Sé e as reparações de alguns deles estavam a cargo da Oficina dos Hingás.

O que foram outrora realidades, hoje não passam de boas recordações.

publicado por Ana Bela Vinagre às 23:07

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