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Jul 11

 

 

Nasceu o rio Lis junto a uma serra

No mesmo dia em que nasceu o Lena;

Mas com muita Paixão, com muita pena

De o seu berço não ser na mesma terra

 

Andando, andando alegres, murmurantes,

Na mesma direcção ambos corriam;

Neles bebendo, as aves chilreantes

Contavam esse amor que ambos sentiam.

 

Um dia já espigados, já crescidos

Contrataram casar, de amor perdidos

Num domingo, em Leiria de mansinho…

 

Mas Lena, assim a modo envergonhada

Do povo, foi casar toda enfeitada

Com o Lis mais abaixo um bocadinho

                            José Marques da Cruz

                                 n.15-11-1888

                                 f. 23-12-1958

 

 

Este soneto inspirou, de forma magnífica, o professor e artista Augusto Mota, que nos anos 60, já gozava de um grande prestígio na região e além fronteiras, num trabalho de grande beleza, simplicidade e sensibilidade, num beijo celebrado entre o Lis e o Lena, envolto pelos verdes e sussurrantes pinheiros, sob o olhar do sol, rubro de vergonha perante tanta intimidade, só testemunhado pelas “aves chilreantes”, com o castelo, ao longe, a abençoá-lo.

O painel decorativo «Lenda do Lis e Lena» (1,80 x 3,60 m) foi um trabalho encomendado em 1965 pelos proprietários do café Colipo, que em breve iria abrir, tendo deixado o motivo ao gosto do autor, pois havia necessidade de decorar uma grande parede para dar mais vida e cor ao ambiente.

O café funcionava onde se encontra hoje a loja do Ponto Negro, na avenida Heróis de Angola. Foi pintado sobre 6 placas de Omnilite, nome comercial de um  produto para a construção civil, fabricado na Martingança, que era feito de aparas miudinhas de madeira, agregadas e prensadas com cimento. Era um material isolante e ignífugo.

Com o encerramento do café, o painel foi desmontado, acabando o seu tempo de vida activa como arte pública.

Este painel foi o rosto de um postal publicado pela Câmara Municipal de Leiria numa Edição Comemorativa do Centenário do Nascimento do poeta Leiriense Marques da Cruz (1888-1958), que logo esgotou, dando lugar a uma reedição.

Mais recentemente, em 2006, a Junta de Freguesia de Leiria, editou uma pasta em cartolina, no tamanho A4, em cuja badana larga foi impressa a biografia do poeta, da autoria do Engº Carlos Fernandes. Dentro da pasta está a reprodução  do painel e, por baixo, o soneto do poeta Marques da Cruz que serviu de inspiração ao professor Augusto Mota. Foi feita uma edição de 5 mil exs., já há muito esgotada.

Existe uma reprodução em azulejo, autorizada pelo autor, numa vivenda na Cruz da Areia, pertencente a Passinhas Marques, que também foi professor da Escola Industrial e Comercial de Leiria, painel pintado pela ceramista leiriense Leonor Ferreira, antiga aluna da mesma Escola.

Mais recentemente, ofereceu o autor, a uma familiar de Lisboa, uma reprodução com metade das dimensões do original, por si retocada por meios informáticos e impressa em tela, autorizando, posteriormente, idêntica reprodução, a pedido de um antigo aluno da Escola, que exerce a sua actividade profissional em Espanha, para decorar a sua casa em Leiria, onde vive a sua família. Estas reproduções foram, depois de impressas e emolduradas, assinadas pelo autor, como se de um original se tratasse.

O painel foi desde logo, um sucesso, bem representativo da arte protagonizada por Augusto Mota, quiçá, um dos trabalhos com maior visibilidade que terá produzido.

publicado por Ana Bela Vinagre às 20:58

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