12
Jun 19

 

Compulsando um periódico da imprensa leiriense[1] de 1923 despertou-me a curiosidade o título de um dos seus artigos - Comercio em Leiria quere descanço ao domingo. matéria que já vinha sendo defendida pela Associação Comercial Leiriense.

A discussão sobre este assunto vinha de longa data. Já em finais do séc. XIX mas sobretudo no princípio do séc. XX a polémica era constantemente colocada no sentido de haver, a nível nacional, um dia de descanso semanal do comércio, para todo o país, ao contrário do que vinha acontecendo, uma vez que cada localidade tinha dias diferentes para o efeito e algumas nem tinham.

Já em 1904, provavelmente sob a influência espanhola, surgem tentativas para a concepção de uma lei que  se debruçasse sobre a matéria.

Comungando do desejo de outras associações do comércio, de algumas profissões  liberais, a proposta da Associação do Comércio de Leiria, indicava o Domingo: É neste dia que todas as pessoas se encontram livres das suas ocupações e, por essa razão, é quando melhor podemos prestar todo o nosso culto à família, quando mais facilmente podemos ter reunidos todos os entes que nos são queridos, sentir as suas alegrias e compartilhar os seus afectos.

Em 1933 elaborado pelo vogal da Comissão PRO DD, Ernesto Korrodi, circulou um inquérito sobre o Descanso Dominical em Portugal por distritos e concelhos. Realizado o apuramento por concelhos resultou que 117 concelhos eram a favor, 109 permaneceram neutros e 45 manifestaram-se contra.

Analisando ao nível das capitais de distrito: Beja, Bragança, Aveiro, Leiria, Santarém, Portalegre concordavam com a sua generalização. Já gozavam do descanso dominical: Braga, Vila Real, Porto, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa, Setúbal, Évora e Faro. Faro, Leiria, Lisboa e Santarém foram os distritos onde a maioria não o aceitava voluntariamente.

O Domingo foi o dia escolhido tal como ainda hoje se mantém. Até quando?

Aos nossos olhos que desde sempre nos conhecemos a utilizar o Domingo a nosso “belo prazer” e até o Sábado da parte da tarde, a tão almejada semana inglesa, causa-nos um certo desconforto que em tempos idos os comerciantes não tivessem o seu dia de descanso.

As mutações da vida vêm demonstrar-nos que as conquistas de ontem, podem não ser as ideais para os dias que correm e o que parece uma excentricidade hoje, foi outrora uma prática habitual. A abertura do comércio ao Domingo, afinal não é novidade!

O facto das grandes superfícies comerciais terem vindo a habituar-nos à prestação desse serviço que tanta polémica tem gerado com o comércio tradicional, criou um hábito que passou a ser uma exigência do público em geral.

As exigências do mundo de hoje parecem não se compadecer com o direito a direitos. Os deveres,  têm, de algum tempo a esta parte, vindo a subir na cotação dos parâmetros da empregabilidade sustentável.

Mudam-se os tempos… mudam-se as vontades.

 

[1] Voz do Povo de 24 de Novembro

publicado por Ana Bela Vinagre às 18:36

09
Jun 19

Fonte do Pocinho

“Constando que a Fonte do Pocinho tem escasseado completamente na bica, ao passo que o depósito ou mãe de água se acha com grande volume de água, deliberou a Câmara (3.8.1864) que se procedesse imediatamente ao rebaixamento necessário no depósito da água e bica a fim de que possa ser aproveitada pelo público toda a água da mesma fonte”. Cito João Cabral – Anais do Município de Leiria, 2ª ed. Leiria, CML, 1993, I vol. P. 128

A Fonte do Pocinho situada no caminho de terra batida que ligava o largo da Escola Industrial e Comercial à zona desportiva do estádio e do gimnodesportivo, que em épocas remotas poderá ter desempenhado um papel importante, pela proximidade do Bairro das Olarias, era na década de 60 e 70,  uma bica, diríamos despretensiosa quase rudimentar.

Límpida e fresca era frequentada pelos alunos da Escola. Para nós tinha um sabor especial, quando, nas tardes de sábado, regressávamos da Feira de Maio e íamos beber dela para matar a sede, lavar as mãos, talvez, para limpar a nossa consciência do pecado da mentira e da transgressão em que havíamos incorrido perante as actividades extracurriculares, pela nossa ausência, perante os pais que nos imaginavam lá e ante nós mesmas que nos víamos obrigadas a mentir para termos umas escassas horas de diversão, por sabermos que nos seriam negadas, se a elas nos propuséssemos.

Era uma pausa revigorante, um lavar a alma, um acto purificador. Era paragem obrigatória.

publicado por Ana Bela Vinagre às 14:38

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