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Nascidas no meio do imenso Atlântico, as ilhas Açorianas não negam a sua origem vulcânica, bem patente na formação da Lagoa das Sete Cidades e da Lagoa do Fogo, na Ilha de São Miguel, a própria Ilha do Pico, o Caldeirão na Ilha do Faial.

Com uma actividade sísmica permanente, os Açores têm sofrido algumas erupções ao longo dos séculos, com destaque para os anos de 1563, no Pico do Sapateiro, e 1620 no Vale das Furnas, na Ilha de São Miguel; 1672 o Capelo, na Ilha do Faial; 1720 na Ilha do Pico; 1808, a Nazelina, na Ilha de São Jorge e novamente no Faial com o Vulcão dos Capelinhos em 1957, já para não  falar nas erupções submarinas.

Mas as suas ilhas têm sido também palco de violentos terramotos. Em 1522 a Vila de Praia de Âncora, em São Miguel, foi destruída. No ano de 1841 foi arrasada a Vila da Praia na Ilha Terceira. Alguns anos mais tarde em 1852 foi a vez de Ponta Delgada. Já mais recentemente lembramos o terramoto, que em 1980 danificou grande parte da cidade de Angra do Heroísmo.

O que nos traz à conversa hoje, mais propriamente à escrita é o terramoto de 1841 que assolou de forma dramática a cidade de Vila da Praia, reduzindo-a a um monte de ruínas, desalojando os seus habitantes, deixando-os  numa situação de extrema penuria e miséria.

O primeiro documento emitido pela Corte sobre o assunto, sai do Paço de Sintra, assinado pelo Barão de Tilheiras, com  data de 5 de Julho e refere-se-lhe nos seguintes termos: por occazião das repetidas oscilações terrestes, que ali se sentiram desde o dia 12 de Junho próximo passado, a que se seguio o espantozo terremoto, que teve logar no dia 15 e que destruio e arruinou completamente a Villa da Praia, produzinddo ao mesmo tempo gravíssimos estragos na Villa de S. Sebastião, em todas as povoações que ficam a leite entre esta ultima Villa e as Lages; do que resultou ficarem os habitantes de todas essas povoações reduzidos á maior consternação e miséria, pelos inormes prejuízos que sofrerão com o total desbarato das suas propriedades, e perdas de todos os objectos de uso domestico.

D. Maria II decretou e Joaquim António de Aguiar, tomou medidas de auxílio que se obterão da generosidade, filantropia e gratidão do Povo Portuguez generosidade de que são credores os habitantes da mencionada Ilha pelos apurados sacrifícios e muitos valiosos serviços, que prestárão em prol da Liberdade e da Independencia Nacional.

Determina, em nome desse auxílio, que em cada capital de distrito administrativo se estabelecesse uma comissão de cinco membros nomeadas pelo Administrador Geral respectivo, de entre cidadãos de mais reconhecida probidade, zelo e filantropia, de onde sairia o presidente e o secretário. O objectivo era angariar fundos para ajudar os açorianos a reconstruir as suas casas, as suas vidas.

A esta onda de solidariedade e auxílio respondeu a cidade de Leiria.  Em 12 de Julho, reuniram, no Paço Episcopal, os membros nomeados pelo Administrador Geral, José Crisóstomo Pereira Barbosa, Vigário Capitular e Governador Temporal da Diocese (eleito presidente), José de Faria Gomes e Oliveira, João Pessoa de Amorim, Luís Henriques d’Azevedo e António de Abreu Couceiro (eleito secretário). Estava assim constituída, a Comissão do Distrito de Leiria, que de imediato estabeleceu comissões filiais em todos os concelhos. Nas freguesias era aos párocos que cabia angariar fundos junto dos seus fregueses.

O reino atravessava um período difícil com o amargo sabor de uma guerra civil, que trouxe insegurança política, perseguições, surtos de movimentos de guerrilha, vandalismo, destruição, pobreza e desolação.

O aumento da décima e outros tributos, e também os invernos rigorosos e as consequentes más colheitas, provocaram nas populações, enormes dificuldades de subsistência evidenciando, por isso, a falta de condições para colaborar na acção desenvolvida. Azoia, Carvide, Cortes, Maceira, Monte Real, foram as freguesias de Leiria a manifestarem a sua total impossibilidade.

Outrossim de Monte Redondo informava o pároco, que os seus paroquianos não se sentiam devedores da ilha pela atitude tomada durante a guerra civil: vi má dispozicão nos ânimos dos póvos, que se achavam muito onerados com fintas, e tributos.

De Pedrógão Grande, apesar de todas as diligências da sua comissão filial, não conseguiram obter donativos, nem por altura da colheita da azeitona. Também Chão de Couce informou que os seus habitantes estavam condicionados aos rendimentos das colheitas dos seus frutos. Só um ano mais tarde conseguiu reunir alguns donativos.

Alcobaça, Alvaiázere, Batalha, Caldas, Óbidos, responderam de forma satisfatória. Produtos como milho, trigo, cevada, vinho, favas entre outros, eram donativos, que depois de vendidos, acresciam aos donativos em dinheiro.

Em 10 de Setembro já o presidente da Comissão de Leiria tinha em mãos 144$000 reis, disponíveis para serem entregues ao Administrador do Tabaco em Leiria, o meio de remessa utilizado, para o efeito, a pedido do Marquês do Faial, presidente da Comissão de Lisboa.

Todo este processo se prolongou por largos meses, com algumas insistências das Comissões. Várias quantias foram obtidas durante o ano de 1842 e uma última entrega em Maio de 1943, de São Martinho do Porto.

Não apurámos o montante dos donativos conseguidos no nosso distrito, nem esse era o nosso objectivo. Quisemos sublinhar tão só, que apesar de o oceano de permeio, a solidariedade, o espírito de entreajuda, a cooperação entre leirienses e açorianos, tem sido uma constante, como já ficou demonstrado por diversas vezes, na nossa História.

Fontes: Fundo do Governo Civil de Leiria, incorporado no Arquivo Distrital de Leiria

PT/ADLRA/AC/GCLRA/D/031

publicado por Ana Bela Vinagre às 19:27

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