Da minha própria experiência enquanto mulher de um deficiente das Forças Armadas e da conjuntura do país no final do Estado Novo marcada profundamente pela guerra colonial, ensaiei um trabalho sobre o papel da mulher portuguesa durante esse período.
Como actuou, como viveu, quanto sofreu.
Que dizer do papel das “nossas” mulheres?
No teatro de guerra cabe aos homens o papel principal: decidir a guerra, actuar na guerra, assumir resultados, enfrentar as consequências.
Nos bastidores ficam as mulheres. O guião reserva-lhes apenas o papel sem personagem, sem opinião, sem voz, remetendo-as ao silêncio e à sombra. E é aqui que reside o paradigma da faceta feminina. Ela não entra em palco, mas por detrás do pano é a âncora, o apoio, o porto seguro, o oásis, que nas horas de insónia, de amargura, de medo e de revolta dos seus homens, emerge forte, segura, encorajadora, o grande pilar da estrutura familiar e social, que viveu e sobreviveu a situações dificílimas e a episódios fantasmagóricos.
De forma individual ou colectiva o papel que desempenhou, o contributo que deu, os projectos que concretizou, agindo das mais variadas formas, convergindo para um único objectivo: o apoio incondicional aos militares portugueses.
Fosse no apoio físico e material, na ajuda psicológica, no seu bem estar em geral, cada uma participou, à sua maneira e de acordo com os seus conhecimentos e meios disponíveis, de forma activa, socorrendo na Cruz Vermelha, assistindo e apoiando no Movimento Nacional Feminino, evacuando feridos com as enfermeiras páraquedistas, motivando através de aerogramas enquanto madrinhas de guerra, levando gravações de vozes de familiares feitas por Estefânea Anacoreta, abrigar e acarinhar pela Mãe Militar, Ilda Fonseca. São alguns exemplos de amor, de cumplicidade, de coragem, de esperança, de determinação. Portugal inteiro deve-lhes o merecido reconhecimento.
A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial de Ana Bela Vinagre, publicado pela editora Fonte da Palavra, de Lisboa, em 2011