Compulsando um periódico da imprensa leiriense[1] de 1923 despertou-me a curiosidade o título de um dos seus artigos - Comercio em Leiria quere descanço ao domingo. matéria que já vinha sendo defendida pela Associação Comercial Leiriense.
A discussão sobre este assunto vinha de longa data. Já em finais do séc. XIX mas sobretudo no princípio do séc. XX a polémica era constantemente colocada no sentido de haver, a nível nacional, um dia de descanso semanal do comércio, para todo o país, ao contrário do que vinha acontecendo, uma vez que cada localidade tinha dias diferentes para o efeito e algumas nem tinham.
Já em 1904, provavelmente sob a influência espanhola, surgem tentativas para a concepção de uma lei que se debruçasse sobre a matéria.
Comungando do desejo de outras associações do comércio, de algumas profissões liberais, a proposta da Associação do Comércio de Leiria, indicava o Domingo: É neste dia que todas as pessoas se encontram livres das suas ocupações e, por essa razão, é quando melhor podemos prestar todo o nosso culto à família, quando mais facilmente podemos ter reunidos todos os entes que nos são queridos, sentir as suas alegrias e compartilhar os seus afectos.
Em 1933 elaborado pelo vogal da Comissão PRO DD, Ernesto Korrodi, circulou um inquérito sobre o Descanso Dominical em Portugal por distritos e concelhos. Realizado o apuramento por concelhos resultou que 117 concelhos eram a favor, 109 permaneceram neutros e 45 manifestaram-se contra.
Analisando ao nível das capitais de distrito: Beja, Bragança, Aveiro, Leiria, Santarém, Portalegre concordavam com a sua generalização. Já gozavam do descanso dominical: Braga, Vila Real, Porto, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa, Setúbal, Évora e Faro. Faro, Leiria, Lisboa e Santarém foram os distritos onde a maioria não o aceitava voluntariamente.
O Domingo foi o dia escolhido tal como ainda hoje se mantém. Até quando?
Aos nossos olhos que desde sempre nos conhecemos a utilizar o Domingo a nosso “belo prazer” e até o Sábado da parte da tarde, a tão almejada semana inglesa, causa-nos um certo desconforto que em tempos idos os comerciantes não tivessem o seu dia de descanso.
As mutações da vida vêm demonstrar-nos que as conquistas de ontem, podem não ser as ideais para os dias que correm e o que parece uma excentricidade hoje, foi outrora uma prática habitual. A abertura do comércio ao Domingo, afinal não é novidade!
O facto das grandes superfícies comerciais terem vindo a habituar-nos à prestação desse serviço que tanta polémica tem gerado com o comércio tradicional, criou um hábito que passou a ser uma exigência do público em geral.
As exigências do mundo de hoje parecem não se compadecer com o direito a direitos. Os deveres, têm, de algum tempo a esta parte, vindo a subir na cotação dos parâmetros da empregabilidade sustentável.
Mudam-se os tempos… mudam-se as vontades.
[1] Voz do Povo de 24 de Novembro